domingo, 15 de março de 2009

Já faz um ano...

Ontem fez um ano que defendi minha tese doutoral perante a Banca de Filosofia na Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Aproveitando a data, apresentarei alguns pequenos trechos que resumem o texto que me permitiu alcançar o título de doutor em Filosofia.

Resumo da Tese

No amplo contexto social, político e religioso da França quinhentista (século XVI), as “Guerras de Religião”, sobretudo a São Bartolomeu (agosto de 1572 - Saint-Barthélemy), motivarão a produção de textos revolucionários pelos huguenotes (protestantes franceses).

O massacre que ocorreu por ocasião das festividades de São Bartolomeu dizimou milhares de protestantes franceses. O número pode ter chegado a cem mil huguenotes mortos em toda a França.

Indignados com a postura do monarca, escritos políticos surgem em todo o país criticando o massacre, a maldade e a indiferença do rei. Serão centenas de libelos, folhetos, panfletos, cartas e livros: alguns apenas apelativos, sem profundidade, outros, de teor religioso e, ainda uns poucos, mais profundos, de caráter político-filosófico.

Surgem ali os grandes escritos monarcômacos franceses. Dentre estes, três se destacam justamente porque conseguirão transcender as questões político-religiosas e realizar uma abordagem sistematizada de temas mais universais da manifestação política do poder.

Dessa forma, conseguirão superar em muito o âmbito da controvérsia então desenvolvida e lançar uma renovada visão em aspectos estruturais do regime de governo.

São eles a Franco-Gallia, da autoria de François Hotman (1573), Du Droit des Magistrats, de Théodore de Bèze (1574), e as Vindiciae contra Tyrannos, de Philippe Du Plessis-Mornay (1579).

Eles abordarão de maneira significativa os temas da limitação dos poderes reais, o direito de resistência à tirania e a teoria contratual nas relações entre governantes e súditos.

As numerosas edições e publicações destes trabalhos (livros) e os comentários de influentes pesquisadores transmitem o valor destas obras.

Dessa forma, escolhi como desafio ampliar os estudos desses livros e realizar uma análise do seu conteúdo para se ter uma clara noção do desenvolvimento do pensamento político dos revolucionários do século XVI, os monarcômacos.

A modernidade é devedora a estes autores[1], pois deles advem modernas teorias como o contratualismo (contrato entre governantes e súditos, nos quais o rei também está sob a lei), o constitucionalismo (a presença de um conjunto de leis que regem uma nação) e o direito de resistência à tirania (a defesa da legitimidade das revoluções políticas).

[1] Logicamente,outros autores posteriores trabalharão as idéias lançadas pelos monarcômacos e as aperfeiçoarão até que elas cheguem ao mundo contemporâneo.

3 comentários:

Unknown disse...

Frank
Achei sua pesquisa no banco de teses da USP. Fiquei muito contente pela sua conquista, e pelo empenho em buscar fontes e intercâmbio acadêmico.
Parabéns!
Abraço
Ubirajara Prestes

Anônimo disse...

Prezado Frank, tudo bem?

Encontrei sua tese na biblioteca da USP em março deste ano, e gostaria de manifestar aqui a minha satisfação por ter descoberto alguém no Brasil que estudou o mesmo tema que venho encarando ha algum tempo: a análise dos discursos dos monarcômacos huguenotes foi um dos temas da minha pesquisa de iniciação cientifica e, no mestrado, continuo analisando os discursos dos reformados franceses.

A minha pesquisa atual trata da produção textual dos huguenotes no período da ‘crise da consciência europeia’. Em meu trabalho, venho tentando mapear e analisar os diferentes discursos - publicados nos reinos protestantes da Europa, para onde os reformados franceses dirigiram-se a partir das primeiras décadas do reinado de Luis XIV - e mapear as inquietações, debates e anseios dos protestes proscritos da França.

Um dos principais debates concernia às perspectivas de retorno do protestantismo a Franca apos a revogação do edito de Nantes, e contrapunha os escritos de Pierre Jurieu - que retomava o paradigma de Hotman, Bèze e Mornay - aos dos apologistas a resignação, como o pastor Elie Merlat, que defendia a obediência irrestrita ao rei. Logo, a discussão sobre a (im)possibilidade de resistência ao rei ainda estava escancarado, mais de um século depois do decênio de 1570, quando surgiram as teses do trio huguenote. Enquanto isto, projetos coloniais como a república huguenote de Henri Duquesne defendiam a necessidade de governos com autoridade limitada, e utopias escritas por reformados também apresentavam críticas ao absolutismo luis-quatorziano.

Eu achei seu blog muito bacana e gostaria de manter contato contigo, pois estou quase surtando pela falta de interlocuções.

Aproveito para agradecer também pelas suas informações biográficas sobre os autores, principalmente sobre o Duplessis-Mornay, que é uma figura emblemática.

Um abraço, Eduardo (eduardo.rocha@usp.br)

Anônimo disse...

Olá professor Frank, muitas saudades das suas aulas...
Estou na orientação e supervisão à Educação Inclusiva em Mairinque/SP.
Sempre me lembro e cito o senhor quando se trata de Cooperação.
Grande abraço!

Eusenildes Diniz
eusenildes@hotmail.com

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