segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Conquistando o Agulhas de Bike - Parte I

No final de agosto de 1998 estávamos na Dutra em direção à divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro. O plano inicial era ir ao Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) e começar os preparativos para uma travessia que faríamos com um grupo no feriado de setembro. Conversando, vimos que não daria tempo de chegar à trilha imperial e voltar para compromissos em São Paulo.


Numa análise tranqüila decidimos andar um pouco mais e visitar o Parque Nacional do Itatiaia, para uma escalada no Agulhas Negras. O fusquinha encarou com facilidade os 40 kms de subida de Engenheiro Passos-RJ até ao Parque do Itatiaia, mesmo com três marmanjos, bagagem e duas bikes no bagageiro. Chegamos cedo e logo estabelecemos o desafio: o Elias e eu colocaríamos as duas bikes no topo do Agulhas, enquanto o Eliandro levaria a mochila, o equipamento fotográfico e prestaria auxílio, se necessário. Por que a aventura? A verdade é que já havíamos subido o Agulhas e não queríamos simplesmente subir outra vez. No entanto decidimos ser cuidadosos e não desafiar a montanha, pois alguns trechos são extremamente perigosos e qualquer descuido pode ser fatal.

Às sete e meia saímos da casa de pedra, Abrigo Rebouças, ponto de referência para o início da subida. Como era bem cedo, decidimos deixar qualquer peso extra que pudesse nos impedir de conseguir o nosso alvo. Levamos na mochila apenas uma bússola comida e uma barraca. Olhamos na bússola e fixamos dois pontos referenciais: o topo e a estradinha atrás da casa de pedra. Bikes nos ombros ou nas costas seguimos com relativa facilidade até a base do Agulhas, no córrego Agulhas Negras. Aí a situação se complicou um pouco: como a subida era íngreme, o peso da bicicleta forçava o corpo para trás ou para o lado, desequilibrando-nos e nos levando a reforçar a atenção e os músculos. Agarrados às fendas na rocha nua, às vezes até deitávamos o corpo na pedra e puxávamos as magrelas. Em outros momentos a vegetação se fechava, dificultando levar as bicicletas às costas ou nos ombros e elas tinham literalmente que ser puxadas “à força”.

Outros grupos de montanhistas que subiam pelo mesmo caminho nos olhavam com ar de surpresa e reforçavam o desafio. Alguns não acreditavam. Uma moça nos perguntou diretamente: - Por que vocês vão subir com duas bicicletas lá no topo? Sorrimos educadamente sem dizer nada, e em seguida perguntamos a ela: - Por que você quer chegar no topo? E ela respondeu: - É, vocês me pegaram!

Finalmente chegamos à parte tecnicamente mais difícil. A canaleta na montanha que leva à fenda do estudante era desafiadora. Se passar por aquele lugar já era difícil, imagine com duas bicicletas. A partir deste trecho o Eliandro passou a nos ajudar para que conseguíssemos o nosso objetivo. Avançamos, ajudando algumas pessoas dos grupos que passavam pela trilha ou utilizando as cordas presas por eles. Em um trecho de 250 metros levamos cerca de duas horas e meia. Chegamos à fenda do estudante. Um de nós foi na frente, e com a “aranha” que levamos içou as bikes para a parte superior da pedra. Após a fenda, quando julgávamos que a coisa ficaria mais fácil, a situação se complicou um pouco. Carregar as bikes naqueles últimos trechos estreitos, tendo a pedra à direita e o precipício à esquerda não foi nada fácil. Mas conseguimos!


Chegamos ao topo! A turma que já estava lá aplaudiu o nosso feito e vibraram junto com a gente. O tempo estava muito bom e dava uma visão fascinante de todo o maciço do Itatiaia. Deu tempo para anotarmos os nossos nomes no livro e trocar endereços com várias pessoas que chegaram ao cume naquele dia.

Uma experiência de fato interessante aconteceu lá no pico. Vi uma fenda na Rocha e mais abaixo vi dois montanhistas. Imaginando que eles haviam descido pela fenda, escorando com as mãos decidi descer pelo mesmo local. Dessa forma, sem nenhum equipamento, a não ser minhas mãos e pés escorando de cada lado da fenda, desci vários metros. Ao chegar lá embaixo, vi que só poderia subir novamente com o auxílio de cordas.



Ao ser puxado para cima, o Elias me chamou de lado e disse que todos que viram aquilo ficaram boquiabertos e disseram - este cara é louco, é impossível descer por aí e desse jeito. Mas aconteceu - por não saber que era impossível e tão arriscado, eu fiz aquilo.

Ficamos cerca de uma hora lá em cima e às três da tarde começamos a descida. A maioria dos montanhistas e alpinistas decidiriu descer pelo caminho mais fácil: a chaminé da vovozinha. Apesar do cansaço, nós optamos por fazer novamente a passagem da fenda do estudante.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...