terça-feira, 30 de agosto de 2011

Thomas Morus - Da Utopia ao Sofrimento da Injustiça

Melius est inuria accipere quam facere.(1)


Grande amigo de Erasmo de Roterdam, Thomas Morus era um funcionário público exemplar e procurava viver da melhor maneira os ensinamentos cristãos. De Morus teria dito Erasmo: ‘É um homem que vive com esmero a verdadeira piedade, sem a menor ponta de superstição. Tem horas fixas em que dirige a Deus suas orações, não com frases feitas, mas nascidas do mais profundo do coração. Quando conversa com os amigos sobre a vida futura, vê-se que fala com sinceridade e com as melhores esperanças. E assim é More também na Corte. Isto, para os que pensam que só há cristãos nos mosteiros.’


Morus deu aos filhos uma educação muito avançada para a época, não discriminando a educação dos filhos e das filhas. A todos indistintamente fez estudar latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Sobre esta família escreveu Erasmo: ‘Verdadeiramente, é uma felicidade conviver com eles.’

Fez carreira como advogado respeitado, honrado e competente e exerceu por algum tempo a cátedra universitária. Em 1504, fazia parte da Câmara dos Comuns da qual foi eleito Speaker (ou presidente), tendo ganho fama de parlamentar combativo. Em 1510, foi nomeado Under-Sheriff de Londres, no ano seguinte juiz membro da Commission of Peace. Entrou para a corte de Henrique em 1520 foi várias vezes embaixador do rei e tornou-se cavaleiro (Knight) em 1521. Foi nomeado vice-tesoureiro e depois Chanceler do Ducado de Lancaster e, a seguir, Chanceler da Inglaterra.

A sua obra mais famosa é "Utopia" (1516) (em grego, utopos = "em lugar nenhum") . Sua obra narra e analisa a situação da Inglaterra de seus dias (riqueza nas mãos de poucos, corrupção, pobreza, opressão, vandalismo, roubo, miséria) acompanhada de várias reflexões. Na segunda parte de sua obra ele conta de uma ilha imaginária, onde não há propriedade privada, os bens pertencem a todos, o governo é exercido pelos mais sábios, há transparência no poder, não há injustiças, nem perseguições. Esta ilha-reino imaginária é vista por alguns autores modernos como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI.

Suas divergências com o rei Henrique VIII começaram com o casamento do rei e, colocado em posição de ratificar esta união com Ana Bolena, Morus entregou seu cargo de Lord Chancellor. O rei criou então um juramento no qual os membros do sacerdócio deveriam reconhecê-lo como líder único e chefe supremo da Igreja. O juramento tinha duas partes: a primeira reconhecendo a legitimidade de qualquer criança nascida do casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, e a segunda repudiando qualquer autoridade estrangeira, príncipe ou potentado. Como se recusou a fazer o juramento (Morus não deu explicações do porquê não o fez), foi condenado à morte e executado em 6 de Julho de 1535. No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que ‘morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro’.
Henrique VIII



O Parlamento Britânico, muitos anos depois, considerou a sentença ordenada por Henrique VIII como uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra – era apenas a demonstração de uma atitude despótica e vingativa do rei.

(1) Melhor é sofrer a injustiça do que praticá-la.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...