quarta-feira, 8 de maio de 2013

Uma Aventura de Carro pelos Caminhos da América do Sul - Capítulo XIV - Sudeste


 CAPÍTULO XV

BRASIL - SUDESTE

"Só tem o prazer da volta quem um dia partiu".


            O dia amanheceu e já estávamos no Espírito Santo. Entramos numa região cuja individualidade encerra o centro econômico do país. Mas esta supremacia, que se apoia num aproveitamento mais intensivo do espaço e dos recursos humanos e minerais, teve a sua construção com o esforço de brasileiros de todas as partes. Contornamos Vitória por fora e rapidamente já estávamos chegando no Rio de Janeiro.
            Antes de sair deste estado, resolvemos tomar uma foto de uma montanha muito bonita. Batemos a foto daquelas rochas com formas diferentes e interessantes. Mais tarde, comparando a foto com postais antigos, vimos que se tratado do "Frade e a Freira".
            Na divisa com o Rio paramos. O carro fazia um barulho estranho na suspensão e o Márcio queria dar uma olhada.
            - Tem um rachamento na longarina! Disse ele.
            - E isto é sério? Perguntei.
            - Muito não! Pode acontecer de a gente passar num buraco e ficar na estrada! Disse ele brincando e continuou:
            - Devemos avançar mais devagar para garantirmos a chegada!
            Devagarinho seguindo pela estrada vimos ao lado da pista um grupo dos sem-terra. Paramos um pouco para conversar com o líder deles. É a velha história: gente pobre e trabalhadora que quer apenas um pedaço de terra para plantar e viver com a família.

            Saímos dali e fomos até Campos, onde almoçamos. Passamos em Niterói e demos uma paradinha no Rio. Como estávamos fazendo nos outros lugares, decidimos apresentar no penúltimo dia nosso projeto para a maior emissora de TV do país. Mas daria muito trabalho atender três jovens aventureiros num final de semana, segundo a chefe da equipe de reportagem que nos atendeu. E afinal de contas ela também é "filha de Deus" e merece descansar, conforme ela mesmo disse.
            Saímos do Rio as dez da noite e estranhamente achamos o mapa embaixo do banco do motorista. Quem colocou ali? Sei lá. Provavelmente quem deu a bronca.
            Lá pela uma da madrugada, a bateria foi pro brejo e apagou na via na Dutra. Quando levantamos a tampa do motor vimos que o eixo do alternador tinha travado. A bateria não recebia mais carga e não nos era possível continuar. Única solução: tentar consertar o problema no alternador. Morrendo de sono desmontamos a peça e descobrimos que o rolamento tinha quebrado e as esferas saíram fora. Só um novo rolamento ou um jeitinho de "Macgiver". Como naquela hora não conseguiríamos um novo rolamento, fomos até um caminhão que estava estacionado próximo e tiramos com o dedo um monte de graxa emprestada. Lambusamos de graxa o que sobrou do rolamento e fizemos o teste. Funcionou! Saímos com faróis apagados para não forçar a bateria e iniciamos a contagem regressiva.
            Neste trecho final falávamos sobre o resultado final da nossa viagem. Agora, já chegando, vimos que nossos alvos foram alcançados. Ao darmos a volta pelos oito principais países da América do Sul e atravessarmos dezessete estados do Brasil vimos que o nosso primeiro alvo foi alcançado.
            O nosso recado ecológico foi dado. É claro que em virtude da nossa passagem rápida pelos lugares a nossa campanha foi limitada, mas por outro lado não há como medir seus resultados.
            Entrar para o Guinness foi uma ideia que surgiu após o plano inicial da viagem. E passou a ser um dos nossos principais alvos. No entanto, se entraríamos ou não para  o Livro dos Recordes, dependeria da análise que os responsáveis pela verificação dos recordes fariam.
            Entramos na marginal e começamos a sentir o prazer de chegar em casa de novo. No carro conversávamos dizendo que não haveria ninguém para a ansiada recepção. Pegamos a estrada de Itapecerica e chegamos no ponto exato da nossa partida. Fizemos uma prece agradecendo a Deus a proteção durante toda a viagem. Estávamos sós. Olhei o hodômetro do carro e peguei papel e lápis. O Márcio usou a calculadora. Foram 28.709 quilômetros em 47 dias de viagem pelo terceiro mundo. Chegamos!
            Nos abraçamos e parabenizamos como se os três tivessem ganho a medalha de ouro. E de fato ganhamos. Não a olímpica, mas a de quem consegue, quem luta, quem persevera até o fim, quem alcança a vitória. Não havia ninguém nos esperando. De repente chegou a família do Binho. Naquela hora, a nossa chegada, me fez lembrar uma frase do atleta Zequinha Barbosa que li certa vez no jornal: "Não corro para a imprensa ou para a TV, corro para mim e para meus familiares. São eles os que vão fazer festa para mim se eu chegar em 5º, 6º ou 10º lugar".
            

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